Os olhos eram pesados, carregados por uma desconfiança dispersa. Uma fina linha de incerteza frente ao novo, e ele então bocejava o óbvio. Era tudo redundante. Apenas aquilo que bem sabia fazer, ignorando o contexto. Logo um olhar profundo, de análise penetrante, mas de eficiência fugaz.
As mãos tristes permaneciam lisas, ágeis. As veias salientavam a impulsividade dos membros, que contrastavam com um novo olhar velho, vítreo. Era solidão em sustenido, ressoando à visão do público.
A testa, esta também tendia ao tédio, enrugada como se quisesse se esconder daquele ambiente médio, povoado por pessoas desinteressadas, outras maltrapilhas, e uma meia dúzia de ouvintes esforçados.
Mesmo assim amorteci frente ao mórbido prazer do sonoro, de um fúnebre som ranzinza arranhado por aquela guitarra desbotada que ele com a perna apoiava. Aquela cara fechada me incomodava de fazer cócegas. Aquela testa franzida… e o bocejo solto, descarado…
Aí voltava o grito das cordas, que aquietava por segundos aquela implicância que voltava a tomar-me a lucidez quando o músico dava de coçar, lentamente, a curvinha do rosto que leva o pescoço ao queixo. Com a ponta das unhas ele se estendia a roçar os pelos, para fora e para dentro, num vaivém automático como de um brinquedo com a pilha gasta.
Era como se dissesse à plateia: “E eu aí com vocês?”. Era quando recuperava a compulsão pela ligeireza dos dedos e tornava a tocar aquelas notas com as quais ele fazia música. E logo voltava a entreter-se com ele mesmo.
Eu, na mesa, me desacomodava ainda mais por não saber se era prazer ou obrigação aquele rito que ele cumpria no palco. Até o último som, mantive a postura torta.
Por Isabela Rosemback
só pode ter sido no raps. E você não dorme mais nas mesas, né? parabéns!
A arte de dormir na mesa… Fui eu que ensinei! (eu acho… assim, como exemplo de irmã que sou)